Café da Garagem, Costa do Castelo








o Café da Garagem tem todos os predicados de um tesouro escondido, enterrado junto às muralhas de um castelo, onde só com mapa se consegue chegar, após uma longa demanda pelas intrincadas ruas de uma cidade velha, onde os perigos espreitam em todos os recantos. no fim, não existe um tesouro em ouro e pedras preciosas ou uma princesa à espera de um beijo para se libertar de uma qualquer maldição, mas sim um tesouro imaterial (que eventualmente pode levar a um beijo de uma princesa) de beleza única que nos faz amar mais um bocadinho esta cidade que chamamos nossa, a nossa Lisboa

o Café da Garagem é uma varanda para Lisboa, para as suas colinas, telhados, casas, igrejas, árvores, formigas a quem chamamos pessoas. de dia ou de noite, esta varanda permite olhar para uma Lisboa imóvel, bela, iluminada pelo sol, pela lua, pelos candeeiros de rua, pelas janelas habitadas de luz e humanidade, enquanto sentados atrás de uma janela que nos fragmenta a paisagem sem a quebrar verdadeiramente, emoldurando antes cada pedaço de paisagem como se de um postal se tratasse

mas o Café da Garagem não se fica apenas pela paisagem. a disposição e decoração do próprio espaço conduzem à contemplação e apreço dessa mesma paisagem, englobando-a. posto isto, como traduzir por palavras a decoração? simplesmente fantástica, cheia de humor e bom gosto, onde a mistura de tamanhos e formas e a utilização de elementos de maneira diferente ao seu propósito inicial (portas a servir de tampos... onde é que já se viu... nem estou a escrever este texto em cima de uma, nem nada) dão um ar boémio e neodecadente ao espaço

como fotografias não é comigo, aqui ficam três pessoas que conseguiram captar aquilo que o meu telemóvel (e eu) nunca conseguiria - A place for twiggs, Lisboa acima Lisboa abaixo, Quiosque alternativo


| A place for twiggs |
| Lisboa acima Lisboa abaixo |
 | Quiosque alternativo |


e o que se come por aqui? comida apropriada ao espírito descontraído do espaço, simples mas bem confeccionada, servindo na perfeição de acompanhamento às conversas, gargalhadas, contemplações ou simples deambulações pelo espaço e pela vista. é possível escolher entre várias saladas, tostas, torradas e tábuas, para além de várias sobremesas

entre torradas, tostas e fatias de bolos, fomos comendo e comentando o que víamos, o que comíamos, para onde viajar, por onde já viajámos, troca de palavras sempre com o olhar focado no infinito Lisboa

atendimento simpático, comida boa, espaço e vista fenomenais - perfeição não existe mas o Café da Garagem anda lá perto. eu sei, se calhar estou a exagerar, se lerem este texto e forem lá mas ficarem desiludidos (acho improvável, mas nunca se sabe), lamento ter elevado a fasquia

mas a sério, vão até lá nem que seja só para beber uma coca-cola zero e apreciar todo o surrounding, ainda por cima a viagem é tão quase tão importante como o destino

ir ao Café da Garagem é uma vontade, raramente um percalço. Caminhando pela Costa do Castelo (a partir do Chão do Loureiro ou a partir da Calçada da Graça), tem de se ir com alguma atenção aos prédios, para não se passar ao lado da discreta placa onde está escrito Teatro Taborda. e se o Teatro pode passar despercebido, então o Café da Garagem é quase invisível para quem não conhecer previamente a sua existência. depois de descoberto o teatro, entrem sem medo e sem desconfiança (se não acreditam, perguntem a quem está na entrada onde é o café), e comecem a vossa viagem descendente ao mundo do teatro (preparem-se para descer vários lances de escadas) com as paredes preenchidas com fotografias de actores e peças de teatro, memorabilia de encenações (podem ir parando para apreciar) até chegarem ao café e um admirável mundo novo se abrir à vossa frente

no entanto, parte desta viagem até ao Café da Garagem deixou-me um pouco triste, pelo abandono a que a Costa do Castelo está votada, com os seus prédios devolutos, a sua escassez de vida, quase como se pagasse penitência por não estar virada para o Tejo

mas espero voltar mais vezes ao Café da Garagem, dizem que o lusco-fusco é muito bonito...



Teatro Taborda
Costa do Castelo, 75, 1100-178 Lisboa
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Aberto de 3ª a Domingo das 15h às 24h
2ª feira aberto das 18 às 24h | 6ª e Sábado encerra às 02h





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